quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Outro vez motivação ???

Você se prepara para mais uma reunião com seu grupo de colaboradores, imagino que isto lhe tome muito tempo e recursos, e é óvio que sua expectativa é a de que todos saiam dali motivados para um novo ano ou desafio que vem pela frente.

O dia tão sonhado chega, o evento é composto de momentos duros, onde são debatidos os problemas internos, outros de relaxamento e para completar, sua empresa resolve encerrar o evento com chave de ouro. Para isto programa uma palestra motivacional.

O palestrante, em menos de uma hora, consegue fazer a plateia alcançar o êxtase. Percebe-se no semblante das pessoas uma mudança inacreditável. O sorriso e até as lágrimas de alguns, mostram como as palavras foram profundas.

O “show de motivação” é um sucesso, muitos aplausos, e todos saem do evento com o sentimento renovado. Tudo parece perfeito. Até que, num piscar de olhos, um novo dia começa. As pessoas, como sempre, repletas de desafios, conflitos, problemas, soluções e tudo mais - um típico dia de trabalho. O interessante é que todos parecem agir do mesmo modo de sempre. E a aquela grande motivação? Onde será que ela foi esquecida? O que deu errado, afinal todos pareciam tão MOTIVADOS ao final de nosso evento?

O nascimento do surto de treinamentos e palestras motivacionais já comemora algumas décadas de vida. É impressionante como executivos e líderes são expostos a este tipo de programa com objetivos não muito claros, e muitas vezes inócuos.

Saem de seu ambiente de negócios e mergulham na profundeza dos programas motivacionais que prometem resgatar, em algumas horas, tudo o que poderá transformar o profissional em um super gestor.

Eles pecam por tratar todos da mesma forma. Como se o combustível da motivação fosse o mesmo para cada pessoa. Esquecem-se que nós não somos do tipo “flex”, cada um se utiliza de um tipo específico de combustível cuja fórmula é mais complexa do que se pensa.

Cada vez mais ousados, estes programas obrigam os participantes a subir em árvores, praticar esportes radicais, acampar na selva, dançar, expor-se ao ridículo, tudo em nome da “esperada mudança”. Um típico “big brother” executivo.

Recentemente, diversos participantes de um programa motivacional, foram obrigados a baixar em hospitais devido a queimaduras nos pés provocadas pelo exercício de “andar em brasas”. Parece que o poder da mente não funcionou para todos da mesma forma.

Pergunto, precisaria um profissional passar por este tipo de atividade para melhorar seu desempenho no dia-a-dia? Quanto isto realmente conduz a mudanças? Quanto isto nos leva a superar as adversidades? Quanto isto aumenta nossa lucratividade?

Não sou contra o uso de dinâmicas inteligentes que complementem um trabalho profundo de formação de líderes, mas me parece que este tipo de ferramenta caiu no campo da banalidade.

Especialistas em motivação surgem a cada novo dia. Basta um treinador de futebol ou um esportista ter algum destaque na temporada, para termos mais um potencial palestrante que, com suas palavras, irá “motivar” milhares de profissionais país a fora.

E o pior é que as empresas investem, ou jogam pelo ralo, muito dinheiro neste tipo de atividade.

Estes “palestrantes do momento” contam ao público sua fórmula de sucesso. Nada contra isto. Mas esta fórmula aplica-se a um momento específico, a uma equipe em particular, que jogou em uma situação única.

Quantos técnicos e esportistas são um sucesso em uma temporada, vencem o campeonato, e no ano seguinte são literalmente “expurgados” da mídia pelos seus péssimos resultados.

Aliás você já viu alguém contratando um deles para ensinar a outros o que os fez alcançar o fracasso naquele momento?

O que aconteceu, o líder desaprendeu sua fórmula? A sua mecânica de motivação não funciona mais como antes?

Claro que não. A explicação é que motivação é passageira e, infelizmente, se vai rapidamente.

As empresas e seus gestores deveriam parar de buscar a motivação de seus colaboradores. As pessoas não mudam por estarem motivadas. A motivação só faz com que elas aparentem estar mais felizes. É pontual, e totalmente dependente do cenário vivenciado naquele momento. Pode mudar a qualquer hora. Não depende de idade. Ela ataca inesperadamente em todos os momentos e faixas etárias de nossas vidas.
É fácil observar o que estou dizendo. Um gestor que volta ao trabalho após certo período de férias deveria estar super motivado, certo? Não necessariamente. Dependendo da qualidade de seus dias de ócio, sua motivação pode estar em alta ou em níveis inferiores aqueles quando ele saiu em férias.

Ao invés da busca pela motivação, deveríamos nos preocupar com os níveis de energia e satisfação de nossos colaboradores. E isto é muito diferente da momentânea “motivação”. Quem recupera energia em momentos do dia é mais produtivo. O mesmo ocorre com as pessoas que obtêm satisfação no trabalho e nada sua vida pessoal.

Os programas de desenvolvimento de liderança, portanto, deveriam focar mais em ganho de energia e condições favoráveis para satisfação profissional do que em atividades que supostamente entregam uma falsa “motivação” a seus participantes.

Na próxima vez que você for participar de um treinamento, avalie bem se você sairá dele apenas “motivado” ou com algo mais significante, que lhe proporcione reflexão e mudança de atitudes em seu dia-a-dia. A escolha é sua.